Funcionários que usam IA enfrentam estigma de preguiça e incompetência no trabalho
Os pesquisadores destacam que o uso de inteligência artificial apresenta um dilema para trabalhadores. Apesar do potencial de melhorar o desempenho e otimizar tarefas, há um custo social embutido: o risco de ser mal interpretado por outros. Isso pode influenciar diretamente a decisão de adotar ou não tais tecnologias, mesmo quando são úteis e eficientes.
A pesquisa identificou ainda que os próprios usuários demonstram receio de revelar o uso da IA no trabalho, com medo de retaliações ou julgamentos. Essa relutância é especialmente comum entre aqueles que percebem que seus colegas ou gestores mantêm uma visão crítica sobre o uso da tecnologia.
Chefes que não usam IA tendem a discriminar candidatos que usam
O estudo também revelou um viés em processos seletivos. Gestores que não utilizam inteligência artificial mostraram-se menos inclinados a contratar candidatos que recorrem a esses recursos. Em contrapartida, líderes que já integram a IA em suas rotinas tendem a valorizar candidatos com o mesmo perfil tecnológico. Isso demonstra que o julgamento negativo não é apenas interpessoal, mas pode influenciar decisões estratégicas dentro das empresas, como contratações e promoções.
O viés também pode variar conforme o contexto e a função. Quando os participantes visualizaram cenários em que a IA gerava ganhos reais de produtividade ou se mostrava essencial para a tarefa, o julgamento negativo era atenuado. Da mesma forma, pessoas que já usam frequentemente ferramentas de IA tendem a ter avaliações mais neutras ou positivas sobre colegas que fazem o mesmo.
Barreiras sociais tornam-se obstáculo invisível à adoção da IA
O estudo da Universidade Duke reforça uma tendência que já havia sido registrada em levantamentos anteriores. Em uma pesquisa realizada pelo Slack em 2024, quase metade dos entrevistados relataram desconforto ao contar para seus chefes que usavam inteligência artificial. O medo de parecerem trapaceiros, incompetentes ou preguiçosos foi citado como o principal fator para o silêncio.
Para os autores da nova pesquisa, esses dados apontam para uma barreira social que ainda não tem recebido a devida atenção no debate sobre transformação digital. Segundo eles, enquanto a maioria dos estudos se concentra nos benefícios e desafios técnicos da IA, pouco se discute sobre as consequências sociais de seu uso no ambiente corporativo.
De acordo com os pesquisadores, a familiaridade com a tecnologia e as crenças pré-existentes sobre ela influenciam fortemente a forma como o uso da IA é avaliado. Quem não utiliza esses recursos tende a julgar mais severamente aqueles que o fazem. A conclusão do artigo é clara: a penalidade social associada ao uso da inteligência artificial deve ser considerada uma barreira significativa — e ainda negligenciada — na adoção dessa tecnologia.
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